quinta-feira, 12 de maio de 2016

Emílio Massot Ocupada


Emílio Massot Ocupada 

 Estudantes se mobilizam em ato que reivindica a contratação de mais funcionários e professores, e o fim da precarização do ensino.



 O Colégio Estadual Coronel Emílio Afonso Massot, localizado na cidade baixa, em Porto Alegre, foi ocupado na manhã de quarta-feira, dia 11 de maio, por estudantes secundaristas que denunciam a falta de professores e funcionários,e a irregularidade na verbas estaduais, atrasada desde janeiro.
 A direção e os alunos receberam no mesmo dia o Secretário Adjunto da Educação, Luís Atônio Alcoba de Freitas, para tratarem sobre essas questões.

   Essa é a primeira escola pública a ser ocupada no Rio Grande do Sul.
Cerca de 200 alunos participaram dessa ação, que foi conduzida pelo grêmio estudantil e teve o apoio de pais e professores solidários à causa. Oficialmente as aulas ainda não foram suspensas, mas estão reduzidas.
Os jovens são inteiramente responsáveis pela limpeza, alimentação e controle do acesso ao local, que por medidas de segurança requer a identificação de jornalistas e colaboradores que vem visitar.

 O diretor do grêmio estudantil, Marcos Anderson da Silva Mano, aponta que a ocupação exige soluções à falta de professor de geografia para o primeiro ano do ensino médio, de ciências para o fundamental, e de ensino básico à quinta série.
Falta uma merendeira no período da tarde, o que compromete muitas vezes a alimentação dos alunos, e a mais de três anos monitores tanto no turno da tarde quanto na manhã. Também está faltando matérias de limpeza e folhas A4 para cópias.

 Segundo o presidente do grêmio, a direção não pode ficar a favor nem contra à ocupação, pois a escola é dos estudantes. “Nós temos o direito de se manifestar, e aqui ninguém está nos impedindo”, frisou Mano.

 A professora de sociologia do primeiro ano, Vanessa Gil, apoia o processo de ocupação dos estudantes, e considera tudo isso um retorno de seu trabalho “Eles entenderam as aulas, vê-los lutando pela educação pública de qualidade, e pelas nossas condições de trabalho mostra que eles estão educando uns aos outros e inclusive aos próprios professores”, comentou Vanessa. A tendência, para ela, é que esse movimento cresça e se espalhe, resultando em movimentos maiores que possam almejar mudanças estruturais nas escolas, em contrapartida a crescente adesão do Estado a lógicas de privatização, que não atendem ao interesse público e tendem a tornar o ensino cada vez mais conservador.

 Para Maria Terra, estudante do primeiro ano do ensino médio, e responsável pela parte de eventos no grêmio, a falta de professores substitutos também afeta muito a rotina da escola. “É horrível a escola não ter professores substitutos, faz um mês que a quinta série não tem aula por causa disso. Sendo que pouco tempo atrás, no primeiro ano, vários professores ficaram doentes e tivemos só um período porque não tinha ninguém para substituir”, reclamou a estudante. Maria afirma que o movimento secundarista pode atingir conquistas sociais a partir de algumas mudanças básicas tais como: a valorização dos professores, com o pagamento do piso nacional, o não parcelamento dos salários e a destinação correta dos recursos à educação. E a construção de espaços democráticos onde possam ser discutidos assuntos pertinentes a sociedade inclusiva, assim como o cumprimento da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).

   Ao ser anunciada a chegada do Secretário Adjunto da Educação, Luís Atônio Alcoba de Freita, houve um momento de apreensão. Os estudantes foram aconselhados a avaliarem bem a situação, considerando que enquanto todas as reivindicações não fossem atendidas, eles não eram obrigados a estipular um fim ao movimento. Depois da reunião ter sido feita, somente entre a direção, os alunos e o estado. O Secretário afirmou em uma coletiva que estão sendo tomadas providências para que a escola possa voltar a normalidade, e que o atraso na verba se deve ao fato da conta corrente da escola ter sido aberta apenas em abril, e não no começo do ano, a partir da nova direção.

 Os recursos relativos a novembro e dezembro foram pagos, março seria pago no dia seguinte.Janeiro e Fevereiro ficariam para os próximos dias, sem previsão exata. Além disso, títulos de reforma no valor de 35 mil reais, referentes aos danos causados por um temporal em janeiro também seriam saldados. A respeito da falta de professores, o secretário afirmou que está sendo viabilizada a vinda de uma nova professora de geografia, e a desvinculação de um professor que já deixou de trabalhar na escola, porém ainda tem registro no sistema.

 Para Mano, a reunião ocorreu bem, ainda assim ele se mantém firme em sua posição. “Os alunos estão motivados para seguir com a ocupação. Só vamos desocupar quando o governador tiver um pouco de vergonha na cara para pagar os professores e a verba atrasada da escola”.

 Aproximadamente 50 alunos passaram a noite na ocupação, ajeitando colchões e barracas dentro das duas salas de aula- uma para os meninos e outra para as meninas- Para os próximos dias estão previstas atividades culturais abertas ao público, tais como gincana, teatro, luau e cinedebates. Os estudantes estão aceitando doações de materiais de limpeza e alimentos não perecíveis, mas enfatizam que qualquer ajuda é bem-vinda.

Por Lorenzo Leuck
Fotos: Anselmo Cunha

 https://goo.gl/photos/oaTwGKfPov77vkW26

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