segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O ASSASSINATO DO COLONO EM SÃO GABRIEL

24 de agosto de 2009, da Vila Setembrina, Bruno Lima Rocha

São Gabriel, por volta de 10 horas da manhã. Fazenda Southall, um complexo latifundiário totalizando 14.000 hectares, alvo de disputa entre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o ex-proprietário, Alfredo Southall. O cenário é o de batalha campal à vista. São 230 brigadianos de distintas unidades contra cerca de 270 colonos ocupantes, a metade deles mulheres e crianças.
O desfecho político para o governo que desse ato é responsável, até o momento é este. O sub-comandante geral da Brigada Militar (BM), coronel Lauro Binsfeld, após sair-se muito mal com os veículos de comunicação foi responsabilizado pela tragédia e afastado. Em seu lugar, o coronel João Carlos Trindade Lopes, comandante-geral da BM, indica o ex-comandante do Comando de Policiamento da Capital, coronel Jones Calixtrato. Acima deles paira o secretário da Segurança Pública, o general do Exército Brasileiro, Edson Gourlarte. Assim, disputas da caserna policial refletem uma interna mal digerida na forma de reposição de peças. O detalhe é que a política não é tão simples e menos ainda as formas de se fazer política para assegurar um direito constitucional. O assassinato de Eltom é o começo de outra escala de lutas reivindicativas. Na cidade da Fronteira Oeste do Rio Grande onde em 1756 caíra peleando o Corregedor do Cabildo da redução de São Miguel, o Estado assassina um colono sem terra. Sepé Tiaraju faleceu de lança em riste perto do Arroio Caiboaté. Peleou, viveu, morreu e voltou defendendo sua terra e povo a quem servia como uma liderança obediente da vontade popular. Eltom Brum da Silva era um agricultor do interior de Caguçu e que peleava por um pedaço de terra. Sua morte foi com chumbo e pelas costas. Os balins da escopeta calibre 12 que assassinaram Eltom deram um exemplo de como o aparato repressivo recorda suas origens e funções quando o tema é a propriedade. O colono não caiu por acaso e menos ainda “mal súbito” como foi a versão da BM noticiada pelos meios de sempre com a cobertura horrorosa de todos os dias. Ele caiu porque era parte de uma medida de luta direta, a forma de exercício de direitos constitucionais que jamais são garantidos a não ser que as parcelas de povo organizado consigam exercer a sua vontade independente de intermediários profissionais. Desta forma, ao mesmo tempo em que os partidos de tipo burguês (de “esquerda” ou não) perdem seu sentido, os órgãos de Estado se vêem na obrigação de ao menos se posicionar. O mesmo se dá no quesito veículos de comunicação social.


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